Um dos itens polêmicos da proposta de reforma da Previdência enviada ao Congresso nesta terça-feira prevê que o trabalhador tenha que contribuir por 49 anos para conseguir se aposentar com 100% do benefício previsto. Por isso, caso queira parar na idade mínima (65 anos) e receber aposentadoria integral, ele deverá começar a contribuir com 16 anos. E aí está um dos dilemas da proposta: as mudanças nas regras deverão ser mais profundas para quem está entrando agora no mercado de trabalho, justamente a parcela da população que mais sofre com o desemprego hoje no país.
Mesmo que o jovem se planeje, como recomendam especialistas em Previdência e os advogados da reforma proposta pelo governo, será difícil conseguir uma ocupação. Dados do Instituto de Pesquisa de Economia Aplicada (Ipea) mostram que o desemprego para jovens de 14 a 24 anos chegou a 26,36% no primeiro trimestre deste ano. Ou seja, um em cada quatro jovens que procuram emprego simplesmente não consegue encontrá-lo.
Para o professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas, Jorge Cavalcanti, a combinação entre a exigência de 49 anos de contribuição e o desemprego em alta fará com que, na prática, o Estado limite o acesso à aposentadoria completa no país. "Eu acho que vão ser pouquíssimas pessoas que com esse regime irão conseguir se aposentar pelo teto", afirma. "Na verdade, praticamente nenhuma."