O colapso dos partidos, iniciado com a devassa judicial ao PT e, a seguir, estendido às demais siglas (MDB, PP, PSDB, PDT etc.), impôs ao quadro eleitoral um cenário de paradoxos e perplexidades.
O primeiro deles é a falta de candidatos competitivos, à altura das estruturas partidárias disponíveis. Os favoritos nas pesquisas - Jair Bolsonaro e Marina Silva - são de partidos ou insignificantes (PSL) ou um pouco mais que isso (Rede).
Os grandes e médios partidos têm dinheiro (o grosso das verbas do fundo eleitoral), tempo de rádio e TV e, em grande parte, apoio logístico e estrutural de governos estaduais, prefeituras, sindicatos etc. Mas seus candidatos não empolgam ninguém.
Exemplo eloquente é o do ex-governador de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin. Perde em seu próprio estado, que já governou por três vezes, para o deputado Bolsonaro, que é do Rio.
Pior: não consegue selar alianças nem com os seus parceiros históricos, MDB e DEM. Até o seu vice, Márcio França, do PSB, que o sucedeu no governo paulista, hesita (eufemismo de evita) em aderir. Produz no máximo declarações dissimuladas.
O problema não é (só) do candidato, mas do partido. É claro que o perfil politicamente desidratado de Alckmin agrava o problema, mas não o explica por inteiro. O PSDB está sem discurso.
No caso do PT, o quadro é inverso. Há uma falange de nomes postulando substituir Lula, mas nenhum emplaca. Todos foram testados - em pesquisas internas e externas: Jacques Wagner, Gleisi Hoffmann, Fernando Haddad etc.
Como o partido não tem o hábito de selar coalizões em que não seja o protagonista, rejeita a ideia de figurar como vice em chapa alheia. Houve especulações que envolveram os nomes de Ciro Gomes, Marina Silva e Joaquim Barbosa, cujo efeito foi dividir e exacerbar os ânimos entre as facções partidárias.
Lula, o único capaz de uni-las, está preso, sem chances de concorrer, a menos que, nos cinco meses que distam das eleições, o partido imponha ao país uma revolução que não logrou obter em 14 anos de governo. Nesse caso, não seriam necessárias as eleições.
O governador cearense Camilo Santana tentou esta semana dizer o óbvio: já que não há um nome competitivo no partido, que tal se aliar a Ciro Gomes, que não faz outra coisa senão buscar essa aliança? O resultado foi aumentar o estresse entre as facções.
Em tal ambiente, o ex-presidente Fernando Henrique busca unir o que chama de "centro democrático e reformista". E a dificuldade começa em definir o que isso seja: "Não deve ser confundida com o Centrão", diz ele, referindo-se ao bloco informal de parlamentares, mais afeito ao jogo fisiológico.
Para o eleitor, no entanto, a política brasileira é um imenso Centrão, que inclui todos os grandes partidos. FHC, no entanto, acredita na viabilidade de mudar esse quadro. E anuncia para o fim deste mês um manifesto que destaque a necessidade de unir o tal "centro democrático", encabeçado por PSDB, DEM, MDB e PTB.
Falta apenas um detalhe: quem seria o candidato? Nenhum desses partidos tem um nome competitivo. E apenas um temor os une: o favoritismo, até aqui, da candidatura de Jair Bolsonaro.
Ruy Fabiano é jornalista